Literatura no principio não era meu forte, sabe? Eu nasci e cresci um cara das exatas. (Talvez isso explique algumas coisas, mas deixo isso para um outro texto).
Eu sempre curti
quadrinhos, na verdade, sempre curti ler de tudo que aparecia na minha frente. Nos
anos de ouro da nossa casa, eu tinha assinatura de quadrinhos e outros luxos literários
infantis, os quais eu sempre devorava em instantes, assim como tudo. Digo como
tudo, porque me foi revelado esses dias que uma das características mais
marcantes minhas, desde criança, sempre foi a sede de saber tudo sobre tudo, o “por
quê”, o “como”, o “quando”, e, tudo isso o quanto antes. Se eu queria saber
algo, queria agora. Se não me contassem, eu descobriria. Se não descobrisse, criava
uma teoria complexa o suficiente para explicar o que quer que fosse de maneira
convincente. E não mudei quase nada desde então.
Continuando, apesar de sempre ler, muito e muito bem,
escrever era uma dificuldade sem fim. Não sei por que cargas d’agua, eu poderia
inventar histórias lindas, complexas, grandes, mas, a folha em branco sempre fora
um obstáculo quase intransponível. E continuou assim até muito tarde... Até
mais ou menos o meu 2ª ano do ensino médio.
Eis que, nesse ano, conheci uma professora (a qual
infelizmente não lembro o nome L
) que conseguiu me mostrar a escrita de uma forma diferente. Na verdade, ela
começou me mostrando a leitura de uma forma completamente nova. Comecei a ler
pessoas que eu entendia profundamente. Comecei a ler textos, que, poderiam ter
sido escritos por minha alma, se ela tivesse a oportunidade. E isso mudou tudo.
Lia os autores românticos como quem lê a si mesmo em uma
outra vida. Eu não os entendia, eu compreendia cada palavra, estrategicamente
posicionada para dar ao leitor uma sensação ou outra. Compreendia cada dor,
cada dúvida, cada dialogo, mesmo sendo diálogos que, dadas as transformações e
limitações da língua, eu nunca fosse capaz de reproduzir. Mas eu compreendia,
eu, no fundo, sabia que eu faria o mesmo, falaria o mesmo, sofreria o mesmo.
E isso me libertou.
A folha em branco deixou de ser um obstáculo e passou a ser
um convite. Os pensamentos passaram a se organizar em versos, cadenciados
musicalmente de acordo com meu humor, com as sensações que eu sentia e queria
fazer meu leitor sentir. O romantismo byroniano me libertou, porque o reflexo
no espelho é a melhor forma de tomar consciência de si.
Assim, passei a me compreender pelos olhos românticos. Aprendi
a amar assim, a ser assim. Como romântico, não consigo me entregar às metades,
sentir ou ser às metades. O meu amor dói (em mim). E queima, machuca,
estrangula... Mas vicia. Eu não seria eu se meu amor não fosse assim. Eu não
sei amar diferente. Não sei ser diferente.
Ou na verdade sei. Sei não amar, sei existir sem ser eu, ou,
existir sem ser seu. Só que isso significa ser sem Ser. ser, sem amar, é ser
com “s” minúsculo. E só uso a palavra “ser” por falta de outra que me venha à
cabeça, porque sendo sem Ser, é como se não fosse, apenas existisse.
Assim, sem você, eu deixo de ser, e passo a apenas existir. E
existir é um sofrimento velado. Sorrio ao mundo, mas, por dentro, estou seco. Não
é sangue que corre em minhas veias. É amor.
Quando deixo de ser e existo, o mundo perde a cor, os
sabores, o vento deixa de soprar. É como viver todo dia a mesma paisagem.
E quem me conhece bem o sabe.
E o problema maior é: é muito difícil amar. Porque não se
escolhe quem se ama, apenas se ama. E amei muito pouco em todos esses anos. E alguns
amores, nem sei se amei amando ou se amei fugindo de outros amores. E, quando
não consigo amar, tento colorir a vida com outras coisas, intensas mas fugazes.
Troco o amor por emoção, o sentimento por sexo, a alegria de te ver pela “entorpência”
de uma tragada, pela embriaguez de um copo.
E, pensando bem, esse texto não é para te conquistar, essa
foi a ideia que tive quando pensei nele. Mas, relendo, esse texto é para me
libertar. E para dizer, que criança que sou, sonhadora que sou, ainda sonho em
conhecer a estrela, tocá-la, abraça-la e adormecer em seus braços.
Para finalizar, segue um texto escrito há 3,5 anos:
“Era uma vez um garoto. Camponês. Apaixonado pelas estrelas, pelos céus, pelas grandes viagens e grandes descobertas. Queria conhecer o mundo e por o mundo em suas mãos. Sempre sonhara em ser astronauta, em tocar as estrelas, beijar a lua e ser feliz. Que pena. Na sua nave montada no topo de sua arvore, construída por ele mesmo, desde criança, viajava e conhecia o mundo, as estrelas, as tocava e as amava. Mas, ele gostara tanto daquilo, que sempre se esquecia do que era, de aonde estava e para onde iria. Ele era apenas um camponês. Plebeu. Estava no chão. As estrelas não o amavam e a lua não o queria. Ele nunca havia beijado a lua, e não conhecia o gosto do amor. Seus sonhos eram apenas sonhos. A nave era um sonho. E ele sempre acordava. Chorando, mas acordava.
Eu sou o garoto.
Vocês são as estrelas.
Meu corpo é a arvore.
A nave são meus valores.
E não sei o que é amar.”
Quase 4 anos se passaram. O garoto continua sentado em cima
de sua árvore, que cresceu, o garoto cresceu, a nave está mais sólida. E eu
ainda não sei o que é amar.
Título: Um texto para (me/te/nos) libertar.
Subtítulo: Um texto para você me conhecer.
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