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Mostrando postagens de março, 2018

Rascunho: Viver é morrer a cada dia um pouco

Tem uma semana que não durmo. E cada noite parece ser pior que a anterior. Minha vontade é de simplesmente gritar. Gritar tanto até simplesmente deixar de existir. Eu consigo ser forte e segurar a barra durante o dia... Mas a noites é meu demônio particular. E a cada hora desde que acordo, ele espreita no horizonte. Eu sou a caça, a noite o caçador. E como a vítima da víbora hipnotizada, paralisada, aterrorizada e com olhos arregalados, eu sei que ele vai chegar à mim, e não há nada que eu possa fazer. Eu preciso lembrar como é não ter ninguém. Por tanto tempo tivemos um ao outro, que eu me esqueci como é estar sozinho, ser sozinho. E pior, era tão bom ter alguém finalmente, de verdade, depois de tantos anos... Eu não entendo (...) Eu não tenho amigos, eu não tenho confidentes, eu não tenho parceiros, eu tenho poucas relações significativas, eu não tenho ninguém com quem contar, conversar, desabafar e desabar de verdade. Se eu sair dessa, espero nunca mais me apoiar em ninguém.

Rascunho: "Delírio/desejo: o sonho da instrumentalização do comportamento vicioso."

“Se não pode com eles, junte-se a eles.” Particularmente nunca fui muito fã dos ditos “ditados populares”. Quase todos são desprovidos de lógica, de conhecimento e propagam ensinamentos vazios. Mas, eis un que vira e mexe me traz boas lições. Tenho em meu repertório, assim como qualquer ser-humano normal, uma série de comportamentos cuja eficácia ou necessidade são questionáveis, e que mais questionáveis ainda são “o bem” ou o reforço que esse comportamento traz quando emitido. Acontece que alguns desses comportamentos são extremamente difíceis, na minha vivência, de serem instintos. O que fazer com eles então? Instrumentá-los. Como assim? Explico. Usei o termo vicioso porque são comportamentos que como um vício são difíceis de controlar e que nem sempre trazem boas consequências, um comportamento assim em mim é um estado de inércia apática que entro as vezes. É um estado no qual meu ser fica dividido em dois, e o ser que sente é totalmente subjugado pelo ser que pensa. Embora con

Rascunho: Insônia

Eu tenho dois tipos de insônia. Uma eu chamo de silêncio. A outra de barulho. Ter a insônia silêncio é como estar na lua, em seu lado escuro. Ou no mais alto mar, em uma noite nublada de lua nova, sem vento. É a insônia do nada. O mundo simplesmente não existe, não há nada, nem sequer o contato do meu corpo com o colchão. E estou acordado, vendo o nada passar. Até o relógio despertar. Essa insônia não me incomoda tanto. No outro dia, estou cansado, mas não estressado. Eu só não dormi, e ok. Mas se pra todo Yin há um Yang, pra minha Silêncio, há a Barulho. E ela é caos. Ter a insônia Barulho é tornar-se animal, predador e caça. Todos meus sentidos parecem mais aguçados, é quase como se enxergasse no escuro. E os sons? Escuto a tudo. A água nos canos, o vento nas folhas, alguém caminhando, uma respiração, um celular que toca, um inseto qualquer na parede, a vibração de uma festa longe. Tudo. Soa. Reverbera. Ecoa. Se silêncio é noite escura e calma em alto mar, barulho é tempestade

Rascunho: O que S.O.U

Eu sou gago, sabe? Algumas pessoas acham fofo, outras acham engraçado. Eu não acho nada, só sou. Eu sou ansioso, sabe? Eu não me achava ansioso antes, mas tem um tempo descobri que sou. Tem gente que acha legal, tem gente que acha que é invenção, tem gente que acha que é frescura. Eu não acho nada, só sou. Eu tenho problemas de confiança. Não do tipo grave, mas eu tenho um leve, sutil. Demoro muito a confiar em alguém, muito mesmo. Tem gente que acha isso normal, tem gente que acha exagero, tem gente que acha que sou louco, tem gente que acha que quem não deve não teme. Eu não acho nada, só tenho. Eu escrevo, as vezes. Tem gente que acha legal, tem gente que não acredita, tem gente que se emociona e tem gente que não dá a mínima. Eu não acho nada, só escrevo. Eu gosto de dirigir, sabe? Tem gente que acha o máximo, tem gente que não entende, tem gente que odeia. Eu não acho nada, só gosto. Eu tenho boa memória. Tem gente que tem inveja, tem gente que tem raiva, tem gente que acha que é

Desabafo sobre feridas, relacionamentos abusivos e um cérebro viciado.

Qual a pior parte de uma ferida? Não sei se você já pensou sobre isso. Sabe, não é o tipo de reflexão que costumamos fazer: “olha, algo ruim aconteceu, mas, qual a pior parte disso que aconteceu?”. Andei pensando quase sem querer e quase obrigado sobre isso, e cheguei a conclusão que a pior parte de uma ferida, é a cicatriz. Toda ferida dói, sangra, inflama, cria casca, e com o tempo vai parando de doer, fecha, sara, e por fim fica a cicatriz. E a cicatriz, embora sinalize o final de um ciclo (o da dor física, da ferida física), marca involuntariamente o começo de um ciclo novo, sem fim: o da lembrança, o da dor psicológica, o da sensibilidade. E ele não termina. A pele sobre a cicatriz é mais fina, mais sensível. A qualquer contato mais abrasivo, se rompe novamente. Além disso, as vezes está num dia bom e tudo vai bem, e passa a mão sobre a cicatriz e se lembra da dor, e de todos os sentimentos que vieram juntos. Quando se cicatriza uma ferida profunda, acabamos desenvolvendo um cuida