Dizem que só temos do mundo aquilo que julgamos merecer. Se isso é verdade, não há prova maior de que toda minha (possível) arrogância, marra e orgulho é só pose. Se do mundo só temos aquilo que julgamos merecer, isso explica porque tenho o que tenho.
Os últimos 3 anos (esse será o 4º) tem sido marcados para mim com uma constância de eventos particularmente incômoda: Cerca de 1 mês antes de do meu aniversário, as coisas começam a dar errado, minha vida vira de pernas pro ar, e, nos últimos 3 anos, entre os 6 primeiros meses do ano, posso sempre tirar 3 ou 4 pra lista de piores meses da minha vida (ou seja, somados já tenho quase 1 ano). Meses que se eu pudesse esqueceria, a lá "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças". Como bom paranoico que sou, observei isso na segunda vez que aconteceu. Na terceira, fiz tudo que pude para não cometer os mesmos erros, não ferrar com tudo no mês de fevereiro, e, no dia 23 de fevereiro, pude sentar e assistir a obra de Dante Alighieri na minha própria vida.
Nessa que seria a quarta vez, me prometi não pensar nisso há 6 meses atrás, numa doce ilusão de que tudo não passava de uma obra da minha mente paranoica. E quase fui convencido disso... Faltavam pouco mais de 2 meses para o fatídico dia, e eu nunca havia me sentido tão feliz em toda minha história. Fazia planos, inclusive, uma sequência de atitudes que colocaria o mês do meu nome de volta no ponto de "mês mais feliz do ano". Eu acreditava que com isso, quebraria a "maldição". Mentira, eu acreditei já ter quebrado a maldição. Maldição. Não devia ter me lembrado da tristeza no momento de glória, pois agora, sou obrigado a abraçar e citar Dante (e falo apenas Dante, com a intimidade conseguida quando se compartilha uma dor) "Não há maior dor do que a de nos recordarmos dos dias felizes quando estamos na miséria.". Sabias palavras, dante.
Continuando minha própria epopeia de terror, dei início mesmo sem perceber à série de eventos que de novo, repetirá o feito dos últimos 3 anos. Caminho para o mesmo penhasco de novo, sabendo que o faço, enxergando o caminho que tenho a frente e o caminho que deixei pra trás, e, por mais que tente, não consigo mudar. Me sinto preso a um trem, sem maquinista, num trilho que não controlo indo para um lugar que não queria ir, sem as pessoas que eu gostaria que estivessem ao meu lado.
Além disso, não sei o que faria se pulasse desse trem. Não sei para onde ir além do penhasco, não vejo nada além de uma queda que dura uma eternidade, intercalada por pequenos vôos entre uma pedra e outra, onde me sinto livre e feliz, até minha face beijar o chão, minhas pernas rolarem sobre meu corpo e eu continuar a cair...
E, eu não consigo sequer culpar a qualquer outra pessoa por tudo isso. Sou apenas eu e meus eus, eu e meus erros, culpados. Aprendi desde sempre a importância de perdoar as pessoas que nos cercam, infelizmente, ninguém nunca me disse a importância de perdoar nossos próprios erros.
Assim, nos próximos 14 dias percorro minha via crúcis particular, com direito a crucificação interior, com data certa para a ressurreição, mas, mais uma vez, sem ressurreição, sem pázcoa, sem nada. De hoje a 14 dias, será dia 20. E com mais 3, 23. E aos 23 desse mês farei meus 26 anos. Sem retrospectiva, sem glória, sem saber nada mais do que sabia quando tinha 20. Ou quando tinha 6.
O Jardim do Éden é apenas o homem culpando a cobra por sua sede de conhecimento. A expulsão do paraíso é simplesmente olhar o mundo como ele é. O pecado original, meus caros, é o conhecimento. E eu queria saber menos, pensar menos, perguntar menos, e ser mais feliz.
Por fim, "Ser feliz é bem melhor que ser Rei".
Pós fim: Mantenho pôs, minha pose de arrogância ao dizer que nada do que sinto há de mudar. Na certeza que tenho sobre não saber quase nada, afirmo com propriedade sobre as coisas que sei. E embora não saiba o que sou, o que quero ou para onde vou... Eu sei o que sinto. E você também o sabe.
"Era uma vez um garoto. Camponês. Apaixonado pelas estrelas, pelos céus, pelas grandes viagens e grandes descobertas. Queria conhecer o mundo e por o mundo em suas mãos. Sempre sonhara em ser astronauta, em tocar as estrelas, beijar a lua e ser feliz. Que pena. Na sua nave montada no topo de sua arvore, construída por ele mesmo, desde criança, viajava e conhecia o mundo, as estrelas, as tocava e as amava. Mas, ele gostara tanto daquilo, que sempre se esquecia do que era, de aonde estava e para onde iria. Ele era apenas um camponês. Plebeu. Estava no chão. As estrelas não o amavam e a lua não o queria. Ele nunca havia beijado a lua, e não conhecia o gosto do amor. Seus sonhos eram apenas sonhos. A nave era um sonho. E ele sempre acordava. Chorando, mas acordava.
Eu sou o garoto.
Vocês são as estrelas.
Meu corpo é a arvore.
A nave são meus valores.
E não sei o que é amar. (07/03/2010)"
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