Ontem eu sentei para escrever um texto. Tinha uma coisa queimando dentro de mim, acho que era inspiração. Sentei, estiquei os dedos, pensei comigo: “é hoje!”. Doce ilusão...
“Psiu?!”. Escutei e olhei pro lado, a janela estava aberta, mas não vi nada. Cheguei a cogitar a hipótese de, aquele fogo seria o efeito de alguma droga? “Será que me drogaram para roubar meus órgãos?” logo descartei a teoria. “Heeyy, psssiu!???”. Pronto, estou doido de verdade. Abri a porta do quarto, meio sem acreditar no que ouvia e fazia. Deparei-me com um ser, acho que uma criança, ela tinha um aura bonita em volta dela, meio que brilhava. Não consegui entender bem o que era aquilo, mas ela me falou “Vem comigo. Vem brincar?!”. E eu fui.
O mundo lá fora parecia diferente, mais claro, mais limpo, e aquela criança corria na minha frente sorrindo. Quando mais sorria, mais brilhava, acho que eu queria acreditar que era só um sonho. Eu queria que fosse só um sonho.
Corremos e corremos, não me cansei, mas corremos muito. Não entendia aquilo, mas estava levemente confortável naquela situação. A criança me levou para o alto de uma serra. Ela queria brincar comigo de pique-pega e cavalinho, brincamos por horas e horas e, embalado pelo riso dela eu nunca me cansava. Era como se o cansaço não mais existisse. Ela quis parar. Paramos.
Perguntei pra ela seu nome, ela não disse, apenas olhou pra mim, percebi pela primeira vez que seus olhos eram de uma cor que não conhecia, mais bonitos que o azul do mar, mais forte que o verde das florestas. Estava encantado. Ela me olhou e sorriu. E não me disse seu nome.
Ficamos ali, admirando o mundo. Tentei conversar algo, puxar algum assunto sobre qualquer coisa, ela não queria conversar. Sem desviar o olhar, colocou o dedo sobre minha boca (seu corpo era quente, eu ainda não havia percebido) e enquanto fechava meus olhos, disse: “Sinta...”.
E eu não sabia o que dizer. Não sabia o que sentia, lagrimas escorreram do meu rosto e senti uma coisa forte, viva, era como se o mundo inteiro estivesse conectado a mim. Eu via tudo, sentia tudo. E chorava como quando uma criança sente o ar rasgando e abrindo seu pulmão pela primeira vez. Doía. E era divino. Eu não queria parar de chorar.
Acordei com a criança olhando para mim, ela ainda sorria. Mas sem fazer barulho, apenas um sorriso bonito, desse de canto de boca. Belos dentes ela tinha. Seu brilho havia diminuído e ela disse que tinha que ir embora. Eu tentei perguntar alguma coisa, mas ela deu mais um sorriso, saiu saltitando e gritando, alegre... Fechei os olhos, confuso.
O vento do ventilador me tocou a face acordei. Estava em minha cama, deitado, de frente ao computador, ainda ligado, uma pagina em branco na tela. Era hora de ir trabalhar e eu ainda não tinha escrito. A vontade tinha passado. Em cima da minha escrivaninha tinha uma foto, de uma criança, minha foto quando ainda era criança. Tive vontade de voltar a sonhar...
Perdi o texto, ganhei um sonho.
Um trovador solitário, Sentado sozinho sobre o luar. Nos pensamentos que longe vagavam Vários corações se perguntavam, Se chocavam. Em cada choque uma lembrança, Um gosto e um cheiro. Um olhar. E o olhar é o mais perigoso. Aqueles corações, Que de lembrança traziam gostos, Cheiros e gozos, Não eram como o olhar. Quando numa quarta-feira, Numa tarde de mormaço, Se encontra um desses corações, Velhos conhecidos, Os que trazem cheiros e gostos, Tocam na nuca, na boca, Calafrios nas costas... Os dos olhos, Você nunca encontra numa quarta-feira, Ele é de sextas. Sextas de lua cheia. Prata no céu a brilhar. E quando se cruzam, Aqueles olhos não tocam a boca, Nem a nuca, nem as costas. Naquele instante, a boca seca, A nuca estremece, As costas suam... Aqueles olhos tocam a alma. São capazes de tudo, Podem tudo... Quando a lembrança desses corações, Invade os pensamentos, O trovador se sacode... Passa a mão na viola, Olha pra lua prata a brilhar. E de repente, sente uma presença... Antes de se
Comentários
já disse e repito: gosto do que você escreve :)
=*
Também gosto do que você escreve.
“Ora bem, se um dia os adultos acabarem por descobrir quão pobres são as suas ocupações, e como as suas profissões são vazias e falhas de qualquer nexo com a vida, porque não seguir, então, olhando todas essas coisas com os olhos da infância, como se fosse algo exterior e estranho? Porque não olhar tudo de longe, da profundidade do nosso próprio mundo, desde os extensos domínios da nossa própria solidão, que é também trabalho e dignidade e ofício?”.
Até logo, meu bom!
Me orgulho muito de vc.... To xiq de amigo... hehehe
Beijos!!
Este é o texto do Dom que eu conheci há tempos atrás..
Adorei *)