Seria possível escrever um
texto por dia?
E dois?
Pretendo ao menos descobrir o
quão longe consigo chegar, quantos textos consigo escrever em um dia, mantendo
um nível mínimo de qualidade e respeito a quem lê. Acontece que minha vida não
é das mais movimentadas, assim, tentarei escrever crônicas... Não que eu saiba
ao fundo o que elas são, mas, sempre as li, e sempre tive vontade de dizer: “nossa,
escrevi uma crônica ontem.” Ridículo, eu sei, mas, não se mata os sonhos de um
louco.
A Flor.
O jardineiro passou e sorriu. Era
a flor mais bela daquela floricultura que ele mantinha com tanto amor e
cuidado. A realização de um sonho dele, aquela cor ruborizada, forte, marcante.
O perfume que incendiava toda a loja. Era sua flor de estimação, eternizada em
fotos, ele jamais a venderia...
O mecânico que arrumava o
carro de um cliente ali em frente, entrou para pedir agua e ao olhar pra flor,
sentiu saudade da Josefa, seu grande amor... A cor da flor o fazia se lembrar
dela, e aquele perfume forte lembrava de longe o cheiro forte dela enquanto
amavam...
O cliente elogiou a flor e
tentou comprá-la. Na verdade, entrara ali pra comprar uma rosa, um pedido de desculpas
pela bebedeira da noite passada que constrangeu a namorada. Ela não havia o
atendido e sua amante o aconselhou a comprar flores e chocolate. Mas, ao ver
tal flor, quis por que quis comprá-la. Insistiu, deu lances, chorou... Mas o
Jardineiro era irredutível... E Carlos, o cliente, foi embora triste com a rosa
que comprou. Ele achava que essa flor era uma ótima forma de se exibir para as mulheres que ele levava em casa.
Nisso Antonieta entrou na
floricultura vindo da cozinha, a mulher do jardineiro estava aflita e
enciumada. Viera reclamar que ele a esquecera, esquecera de seus pedidos, só
tinha olhos pra flor. Nem os ovos que ela pediu pra ele levar pra casa ele
levou. Ovos! “Como pode alguém se esquecer de comprar Ovos?” entrou determinada
a dar um basta naquilo... Mas esbarrou com Carlos, que lhe deu um sorriso e uma
piscadela, que a deixou vermelha, quente. Entrou, beijou seu marido e voltou
pra dentro sem sequer se lembrar do que tinha ido fazer ali.
Na mesma hora entrou uma pomba
meio atordoada, voando desesperada. Acabara de quase ser atropelada por uma
lotação que passava na rua. Na confusão, esbarrou em algumas flores, provocou
gritos e sustos, e por fim, antes de sair, deixou suas fezes sobre a tão famosa
flor...
O jardineiro, triste, chorou.
O mecânico teve certeza que a
flor o lembrava de Josefa, aquela vadia cagou na vida dele.
Comentários
Quanta ironia, senhor...
"Como pode alguém se esquecer de comprar Ovos?"
Uma passagem de pura poesia! Profundo e reflexivo. uhahuauhahuauha
Perde a poesia, mas nunca a ironia, né, Fê?! Adorei te ler de novo...